segunda-feira, 27 de junho de 2011

Nouvelle vague


 

Iniciada em 1959 por François Truffaut, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, Claude Chabrol, Jacques Rivette e Eric Rohmer, a nouvelle vague revolucionou a forma de se fazer cinema em todo o mundo. Seu cinema inovador, criativo, renovado e ousado empolgou jovens e cinéfilos por toda parte, apresentando novidades técnicas e temáticas, revelando diretores extremamente talentosos e, conseqüentemente, marcando a história do cinema para sempre.
Mas para entender o impacto deste movimento é preciso, primeiramente, entender de onde surgiram estes importantes nomes da história cinematográfica. Jovens e ambiciosos, Truffaut, Godard e companhia eram críticos da revista “Cahiers du Cinéma”, liderados por André Bazin, um renomado teórico do cinema. Insatisfeitos com o cinema clássico (principalmente o cinema francês) e com a forma convencional de se fazer filmes do chamado “cinema de qualidade”, estes jovens talentosos decidiram largar a caneta e partir pra trás das câmeras, na tentativa de transgredir as regras do cinema convencional e estabelecer o conceito do “cinema de autor”, onde o papel do realizador é o de um artista, a câmera é o seu pincel e o filme é uma obra de arte. Cinéfilos de carteirinha, estudiosos do cinema e extremamente talentosos, estes jovens diretores franceses, que se trancavam em cineclubes para debater a sétima arte, brindaram o cinema mundial com filmes feitos de cinéfilos para cinéfilos, deixando na história obras marcantes e inesquecíveis. Inovações técnicas e temáticas eram aplicadas em narrativas não convencionais, provocando uma verdadeira revolução, um enorme impacto nas telas de cinema, que explodiu para o mundo em 1959, com a estréia em Cannes de “Os Incompreendidos”.

 "Os Incompreendidos", 1959, dirigido por François Truffaut.

Antes de prosseguir, entretanto, é preciso reparar uma injustiça muito comum entre a maioria das pessoas que não conhecem os filmes da nouvelle vague. Existe o pensamento de que estes filmes foram feitos por intelectuais metidos, com um ritmo arrastado, lento, e com diálogos intermináveis e incompreensíveis. Um erro grotesco, mas infelizmente comum. Na realidade, a nouvelle vague injetou novas idéias, renovou conceitos e mudou para sempre a forma de se fazer cinema. Eram filmes cheios de energia, voltados para o público jovem e com muita coisa importante a ser dita. E para conferir isto, basta assistir ao primeiro filme de François Truffaut, o inovador “Os Incompreendidos”, que marca o inicio da nouvelle vague narrando o dia-a-dia de um jovem adolescente, ou então conferir o explosivo “Acossado”, de Jean-Luc Godard, onde logo no início do longa determinado personagem fala com a câmera (e, mais do que isso, xinga a platéia!) enquanto dirige um carro roubado em alta velocidade. A ousadia técnica e temática dos filmes da nouvelle vague só viria a ser copiada alguns anos depois em Hollywood, influenciando o movimento chamado “Nova Hollywood”, liderado por grandes cineastas norte-americanos como Coppola, Scorsese e tantos outros importantes diretores da sétima arte.
Entre as principais características da nouvelle vague estão as técnicas inovadoras de movimentação de câmera e de montagem, a narrativa não linear, a sensualidade sutil que explorava com perfeição a beleza das musas da época e os temas ousados abordados na maioria dos filmes. Um adolescente rebelde, um assassino em fuga, homens e mulheres que traem os parceiros e um aberto triângulo amoroso são apenas alguns dos ousados temas abordados. Cenas de nudez, que conferem um erotismo sugerido, pouco explicito é verdade, mas muito sensual, também eram presença constante nestes filmes, além da forma diferenciada de falar e tratar a mulher, com profundo respeito e admiração pela figura feminina.



"Acossado", 1959, dirigido por Jean-Luc Godard
  

Entre os seus grandes diretores, o destaque maior fica para François Truffaut e Jean-Luc Godard, que seguiram caminhos completamente diferentes em suas carreiras ao longo do tempo, mas que foram essenciais para a afirmação deste importante movimento. O sensível Truffaut sempre se importou mais com o desenvolvimento dos personagens do que com a estilização da imagem, ao contrário do cerebral Godard, que preferia explorar ao máximo as possibilidades técnicas. Não que Truffaut não ousasse tecnicamente ou que Godard não tivesse cuidado no desenvolvimento de seus personagens, mas claramente a preferência de um não era a escolha do outro. No fim das contas, ambos conseguiam excelentes resultados, cada um à sua maneira.

A teoria do autor

Polêmica até hoje, a teoria do autor defende que o grande responsável pelo filme é o diretor (que por vezes é também produtor e roteirista), normalmente deixando marcas pessoais em todas as suas obras. De acordo com esta teoria, o autor tinha total liberdade para criar em seus filmes, sem se prender às regras das poderosas produtoras da indústria cinematográfica. Os “autores” da nouvelle vague co-financiavam seus próprios projetos e saiam para filmar nas ruas, para filmar a vida, para fazer um cinema diferente, com paixão, com emoção e, acima de tudo, repleto de novas idéias. Devo dizer que não concordo com esta teoria, por entender que o cinema é realmente uma arte, mas uma arte coletiva e não individual. Em todo caso, os cineastas da nouvelle vague defendiam a idéia de que o filme é uma arte e o responsável por ela era o diretor, ou seja, o diretor era o autor daquela obra de arte.

Os grandes diretores e alguns de seus principais filmes

Alain Resnais (“Hiroshima, meu amor”, “Ano passado em Marienbad”, “Providence”, “Meu tio na América” e “Medos privados em lugares públicos”).

Alain Resnais

Claude Chabrol (“A mulher infiel”, “A besta deve morrer”, “O Açougueiro”, “Um assunto de mulheres” e “Mulheres diabólicas”).

Claude Chabrol

Eric Rohmer (“Minha noite com ela”, “O joelho de Claire”, “Amor à tarde”, “Pauline na praia” e “O raio verde”).
Eric Rohmer

François Truffaut (“Os incompreendidos”, “Jules e Jim”, “Fahrenheit 451”, “A noite americana” e “O homem que amava as mulheres”).

François Truffaut 

Jacques Rivette (“Paris nos pertence”, “A religiosa”, “O morro dos ventos uivantes”, “A bela intrigante” e “Defesa secreta”).

Jacques Rivette


Jean-Luc Godard (“Acossado”, “Uma mulher é uma mulher”, “O Desprezo”, “Alphaville” e “O demônio das onze horas”). 

Jean-Luc Godard



fonte: http://cinemaedebate.com/a-setima-arte/nouvelle-vague/

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